sábado, 17 de janeiro de 2009

dá jeito

Um dos pensamentos mais importantes do Karl Popper (que ando a revisitar) é a de que o conhecimento e a investigação devem gerar-se em nós por via dedutiva e não, como durante muito tempo se defendeu, por via indutiva. Quer isto dizer que devemos antes de tudo representar a nossa ideia e depois encontrar e demonstrar [embora não seja a demonstração um requisito de validade (nunca verdade)] os exemplos dessa ideia. Ao invés, porque a Indução propõe precisamente o contrário, Popper acusa-a de intelectualmente castradora, criativamente limitadora. Avessa à própria evolução do conhecimento humano, por natureza, segundo ele, imaginativo.
Não me vou debruçar sobre o rigor mais ou menos intelectual desta concepção do Popper. Fundamentalmente porque não disponho do saber necessário para o fazer (a começar pelo conhecimento sólido de teorias opostas, como as de Bacon, por exemplo).
Mas não deixo de me questionar sobre a utilidade da construção de Popper num plano exclusivamente prático. Da forma que Popper põe as coisas, qualquer um de nós pode conceber uma ideia com toda a legitimidade e validade, independentemente da sua confirmação (nunca verificação). Não poderá levar esta visão, no limite, a posições intelectuais autistas e perigosamente dogmáticas? Não me estou a referir a ideias políticas ou sociais. Nada disso. Estou a apontar para coisas super triviais. Crio a ideia de que O Bacalhau é muito mais doce que o Pudim.
O que interessa se os exemplos do quotidiano o comprovam (e nunca verificam)? É a minha criação a priori, original. Ora quando estivermos a discutir com alguém o paladar do bacalhau e do pudim, dá muito jeito encarar a situação na lógica da Dedução do Popper. Não dá? É que temos sempre um reduto de razão, especialmente legitimado por ser construção de uma autoridade intelectual como Popper.

nota: o exemplo é estúpido, mas é esse o propósito.

2 comentários:

D. disse...

finalmente também eu tive tempo de ir rever popper. lembrava vagamente do exemplo que a professora de filosofia usava sempre em relação à química, pois pertencia a uma turma de ciências. e se aplicares o método de popper às ciências naturais, entendes que de facto não há, ou não parece haver forma mais perfeita de evoluir no contexto científico. algo em que acreditas aparece-te formulado de X fórmula, mas para o tomares como certo, tens sempre que o comprovar, que o colocar perante o mundo real em todas as suas variáveis e apenas após tudo isso, podes tomar como verdade, sempre uma verdade relativa pois a qualquer momento pode ser falsificada. ora, eu acho que isto apenas leva à evolução do pensamento. provavelmente se tentasses discutir com alguém que o bacalhau é mais doce do que o pudim, iriam pensar que és tolo ou que sofres de alguma disfunção do paladar, ou no máximo mandariam-te ir comprovar de alguma forma se isso era ou não verdade. o que ia acabar por cair, porque efectivamente o bacalhau não é mais doce do que o pudim.
mas eu não sou uma especialista em popper, apenas andei a rever alguns conceitos. :p

D. disse...

esqueci-me de referir que isto também se estende às outras ciências e a todos os tipos de formulações do pensamento (a hora já vai avançada e já não estou em plenas faculdades :) )