sábado, 10 de janeiro de 2009

fe-me-quê?

Numa disposição em círculo de cadeiras, fui apanhado numa conversa entre mulheres. Alegremente alheias à minha sensibilidade e à do outro homem presente na sala. Diziam elas, entre o humor fácil e a assertividade triunfal, que a diferença entre o homem e a mulher era a seguinte: a mulher pensa em abstracto; o homem, esse (aqui o esgar era de um desprezo sorridente), pensava em concreto. Apenas em concreto. E daqui partiram animadas para uma série de exemplos do tal pensamento meramente concreto do homem, obviamente num registo pejorativo e jocoso.
Depois de trocar alguns (melancólicos) olhares com o meu homólogo, continuei a pensar no que tinha ouvido. À volta para casa, enquanto ouvia radio, presenciei a conversa entre duas jovens locutoras cujo único escopo era satirizar e vexar alguns dos vícios (porque só os homens os têm, não é verdade?) masculinos. Sempre sustentando cuidadosamente o seu discurso no Feminismo.
Bem, que interesse tem isto tudo?
Pode ser só impressão minha, mas sinto que hoje muitas mulheres se servem desse fantástico movimento que dá pelo nome de Feminismo, para caírem no gozo fácil e desonesto do sexo masculino. Sem critério, sem rigor. Parece que aquele velho brocardo dos dominados que passam a dominadores (na acepção ditatorial da expressão) contagiou as mulheres. Parecem ser elas hoje que nos ostracizam por gozo fácil.
Penso mesmo que há hoje uma manipulação da ideia do que é o Feminismo. Não como luta de emancipação e paridade sexual (e que grande luta que é e continua a ser!), mas como pretexto da mulher para humilhar o homem comum. Que de resto terá as suas virtudes e os seus defeitos. Como qualquer homem. Como qualquer... mulher.
Será que os Homens precisam nos tempos que correm de uma Simone Beauvoir e de um Segundo Sexo? Bem, talvez nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Porém, em situações como a descrita no início, chego a sentir-me verdadeiramente incomodado.
E, se me é permitido tal ousadia, creio ser este um fenómeno que vai marcar nos próximos tempos as relações sociais. As consequências é que desconheço.

Nota: o autor do texto é um fervoroso admirador do Feminismo de ontem e de hoje. Justamente por isso, é que se interroga sobre os caminhos falaciosos que por vezes ele hoje toma, a pretexto de uma sobranceria e arrogância do sexo feminino.
O espírito do texto atende evidentemente ao espírito intelectual, político e cívico presente numa sociedade democrática. Infelizmente, como é sabido, ainda em numeros países a Mulher é vítima de uma opressão e subalternização intoleráveis.
No entanto, o autor do texto também não ignora que, mesmo em sociedades democráticas, há ainda muitas formas subtis de discriminação do sexo feminino ou de pura violência gratuita (a começar pela doméstica).
Resumidamente: o autor do texto está de punhos firmes ao lado da Mulher. Mas não deixa de se interrogar sobre algumas das suas idiossincrasias.

6 comentários:

D. disse...

não sei se será feminismo. não sei mesmo. sei apenas que cada vez mais, e sinto isso em todas as conversas que tenho com mulheres, que finalmente decidimos parar de baixar as guardas e ficar contagiadas por qualquer sorriso ou palavra bonita. os homens têm vícios, as mulheres também os têm e o seu maior é provavelmente a crueldade que conseguem ter algumas vezes. e talvez isso seja aquilo que mais distingue mulheres e homens hoje. de resto, não acho que haja alguma diferença tão grande, se calhar vocês é que não estavam habituados a certas "ousadias"...
mas e apesar de todas as diferenças, acho que é óbvio que quando ambos os sexos decidem tocar a mesma melodia, não há nenhuma diferença, ambos pensam de forma igual, ambos se entregam e ambos fazem os meus erros, não deixam de ser sempre iguais.

p.s - mas eu confesso que me dá por vezes imenso gozo certas coisas que se falam dos homens e certas conversas tipicamente femininas, mas o limite é sempre a barreira do respeito e quando os sexos não se respeitam, então algo de muito errado se passa.

Francisco disse...

"sinto isso em todas as conversas que tenho com mulheres, que finalmente decidimos parar de baixar as guardas e ficar contagiadas por qualquer sorriso ou palavra bonita".
Mas que tem isto a ver com gozo e humilhação? Diz o Gabriel O Pensador: "é um bom dia, um boa tarde, um por favor – simpatia é paz e amor". Isto são coisas boas da vida. Agora um "qualquer sorriso ou palavra bonita" nada tem que ver com o gozo e a formatação desleixada do sexo oposto...

"as mulheres também os têm [vícios] e o seu maior é provavelmente a crueldade que conseguem ter algumas vezes". Ora bem, isto é algo de que discordo totalmente. Crueldade vale para homem e mulher. Cada caso é um caso, já não dizia ninguém importante senão a sabedoria popular. :)

Inês disse...

Bem, dou.te os amens todos em relação ao que dizes neste post, tal como dei na conversa do nosso jantar dAc. Especialmente na parte em que disseste que - odeio esta expressão, mas aplica-se - chega a uma altura em que 'é preso por ter cão e preso por não ter'. Se são queridos e mandam mensagens e 'toques' (lol) e telefonam e insistem e elogiam são chatos; se não dão sinais de vida todos os dias já são uns insensíveis, 'todos iguais'. Não é fácil para vocês e acaba por ser cansativo também para nós. Por isso é que sabe tão bem quando, já cansados de lutar contra as 'manias' do sexo oposto e de tentar entender os hipotéticos joguinhos que achamos que existem por trás dos 'sorrisos e das palavras bonitas' (em suma, de jogar à defesa), nos rendemos. Todos. Se depois correr mal, correu. Choramos, procuramos outra pessoa, pomos o mundo em causa e tempos depois voltamos a acreditar no Amor. E quem disse que não é suposto isso acontecer 5,6,7,20 vezes? Não se pode ter medo de arriscar e de viver o que -achamos nós - à partida não terá o final mais feliz. Temos tempo. Afinal, ainda não vamos morrer amanhã.

(fácil de dizer, difícl de pôr em prática, claro...aí percebo o que diz a daniela. Mas é preciso tentar acreditar, porque 'partir derrotado' não será a melhor solução...)

Francisco disse...

Gostei muito da ideia de nos "rendermos" todos. Era tudo bem mais simples... Será que, tal como foram precisos séculos para a mulher ser reconhecida como igual, serão precisos outros tantos para que o nivelamento relacional entre homens e mulheres seja uma realidade? Como que se a mulher tivesse "subido" à posição do homem, "superiorizado" a posição do homem; e agora... quando "desce" ao mesmo patamar? É que só aí, quando houver a tal "rendição" total de que falas, é que me parece que possamos viver todos um bocado melhor com nós próprios e com os outros...

(volto a lembrar oo contexto espacio-temporal da minha opinião)

D. disse...

francisco, eu não acho que as mulheres se tenham elevado, acho apenas que estamos iguais.
e volto a lembrar que eu acho que se ultrapassam os limites quando se deixa de respeitar o sexo oposto e acho que nunca em conversas o fiz, até porque eu gosto demasiado de homens para alguma vez ultrapassar certas barreiras de crueldade, tenham os defeitos que tiverem, não deixam de ser homens :)

inês, já me fizeste rir imenso. eu não concordo nada com isso, claro que dar toques já tem requintes de psicopatia, mas quem não fica derretido com mensagens vindas do nada com palavras mais doces? claro que às vezes o freguês desconfia, mas não deixa de ser agradável. o problema é que talvez seja defeito das mulheres, pronto, de algumas mulheres, mas é normal jogar à defesa e tentar perceber o grau de insistência ou seja lá o que for. eu pelo menos, penso e penso nas coisas e pondero tudo, se bem que às vezes acabo por me lixar na mesma, mas é normal jogar-se à defesa, se não andávamos constantemente perdidos entre desgostos amorosos... :p
p.s - a ideia da rendição é belíssima sim, é provavelmente das imagens mais bonitas, quando duas pessoas, tal como já tinha dito, decidem tocar a mesma melodia e deixam de lado todas as guardas.

TR disse...

noronha, 100% contigo. completamente.