quarta-feira, 24 de março de 2010

Que fazes tu aqui a estas horas, rapaz?
É que não durmo, senhor.
Passas as noites em claro?
Pior, senhor.
Acordas e adormeces acordas e adormeces?
Antes fosse, senhor.
Então? São as costas que te doem?
Também, senhor, mas com as costas já posso eu bem… já me acostumei.
É a cabeça latejando?
Sim! Sim, senhor, sim o raio da meloa.
Passa-lhe um pano molhado com água fria, verás que a noite será mais fácil.
Mas não é isso, senhor…
Não é isso o quê? Ousas dizer-me que é mais, que eventualmente terás pecado?
Não, senhor… até costumam dizer que não faço mal a uma formiga.
A uma mosca, rapaz.
Ou isso, senhor. Acredite-me que nem moscas nem formigas.
Vejo que sim. Pois bem, rapaz.
mas caralho do velho que não vê que não percebe, que eu aqui à rasca, um palmo e meio de respiração em suspenso e o caralho do velho que não vê que não percebe, mas como se a sotaina ondula de cada vez que o ar entrecortado me sai dos pulmões, até tusso, mas então não me ia ajudar o cabrão do velho, está bem que é tarde e não venho a calhar mas quer dizer, a calhar também não me vêm as costas e bem que ando com elas, não sei quantos ossos não sei quanta carne a cair-me em cima
Senhor…
Diz-me, rapaz.
Não durmo, senhor… são
Sim? São?
São
Fala, rapaz!
São dias em claro, senhor.

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