domingo, 10 de agosto de 2014

Ida



O Carlos Melo Ferreira assinalou que o Night Moves (2013), da Kelly Reichardt, era o filme mais bressoniano de que hoje o cinema americano é capaz (do que me inclino para discordar, porque nem sequer bressoniano o filme, americano ou não, me parece), mas, mais importante, que a personagem de Josh (Jesse Eisenberg) era, também ela, bressoniana - do que também tenho as minhas dúvidas, sobretudo depois de ver o Ida (2013, Pawel Pawlikowski), onde, aqui sim, temos uma mulher bressoniana dos pés à cabeça. Aliás, esclarecimento mais evidente disto mesmo não podia haver: depois de fazerem amor, quando o jovem músico lhe pergunta em que é que pensa, Ida responde: "não penso em nada". Pressentimos (sabemos), neste exacto momento, que este "não penso em nada" não é circunstancial ou de ocasião; pelo contrário, é precisamente o seu traço identitário fundamental: Ida "não pensa em nada" sempre. E juro pelas alminhas que tudo isto me ocorreu antes de ler este artigoNotável actriz, notável filme.

Sem comentários: