segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Walsh #15 - Uma ida à piscina/Oslo, 31 de Agosto (Sopa de Planos)


A última Sopa de Planos do À Pala de Walsh não podia ser mais veraneante, não fossem as piscinas um dos ex libris desta estação. Infelizmente, o plano que escolhi não é o mais veraneante possível - ao menos num certo sentido: de leveza, alegria, descontracção -, mas é dos que mais me tocaram na obra-prima que Joachim Trier nos trouxe em 2011: Oslo, 31 de Agosto.
Quando o escolhi, fiquei um pouco triste por ter que descartar um outro plano de um outro filme. Para meu regozijo, o Carlos Natálio fez o favor de pegar justamente no(s) plano(s) da piscina do filme da Sofia Coppola - e fê-lo melhor que eu o faria. Está tudo bem, portanto.

Mergulhem em todas estas piscinas mesmo aqui ao lado (clicar).


Oslo, 31. august (Oslo, 31 de Agosto, 2011) praticamente abre e fecha com duas “piscinas”: uma “natural” (um lago), outra propriamente dita. Entre elas, vida e morte. Tudo começa nesse lago, com Anders tentado pelo suicídio, ideia de que desiste (resiste), voltando “à tona” – da água e da vida. O que se segue é o perturbante acompanhamento do primeiro dia de Anders, em processo de desintoxicação, num paulatino “regresso à normalidade”, visitando alguns amigos na cidade e acorrendo a uma entrevista de emprego. A noite tem tudo para ser agradável: é Verão, Anders vai a festas de amigos, conhece algumas pessoas e revê outras, troca impressões, bebe socialmente. Acaba, já de madrugada, numa piscina com um amigo e duas (belas) estranhas. Mas, tal como durante todo o dia, em nenhum momento Anders está verdadeiramente , antes contemplando tudo sob a lente da nostalgia, do já-vivido, do repetido (e do irrepetível, porque o melhor lhe parece irremediavelmente lá atrás), como um espectador – afinal de contas, como nós, espectadores, que, sob a lente das nossas vivências e experiências, (ab)sorvemos os filmes. É isso que Anders vê – e nós também, através do seu olhar – neste plano (et por cause subjectivo): uma cópia, um simulacro do já-vivido (e inelutavelmente perdido). Por isso, apesar da vida (água, luz, cor, a beleza desta mulher que o tenta resgatar ao abismo) que inunda esta manhã – que, tal como a noite que findou, tem tudo para ser feliz –, será ainda a morte que Anders tomará num poderoso shot de heroína. I remember thinking: “I’ll remember this”. Anders dixit.

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